Antes da ordem, vem o caos
E essas resoluções de ano novo?
Ainda estás a trabalhar nelas ou estão pendentes à espera do próximo ano?
Grande parte da humanidade tende a abraçar a passagem de um ano com este tipo de metas, mas no início de fevereiro (desse tal novo ano) grande parte delas já está esquecida ou abandonada.
Se podes atingir tudo o que queres, porque é que não o fazes? O que te impede ou bloqueia?
Possivelmente, algo mais comum do que pensas.
Existe um determinado fator em nós, seres humanos, que nos afeta consciente ou inconscientemente – a autossabotagem.
Usamos apenas uma pequena fração do potencial da nossa mente.
A ser verdade, a fração já é pequena e nós ainda a usamos de forma destrutiva. É isso mesmo que caracteriza a autossabotagem, ações destrutivas que praticamos em relação a nós mesmos e que limitam valores, objetivos, capacidades, vontades, desejos, sonhos…
Apesar de ser algo normal da experiência humana, a autossabotagem pode ser perigosa.
Todos nós, de tempos a tempos, entramos em fases de autossabotagem. Torna-se perigoso quando passa a ser um padrão ou hábito com consequências negativas para a vida pessoal, profissional, social, escolar/académica, relacional.
Normalmente é um tipo de comportamento que não é claramente percebido.
Dominados por ansiedade, medo, insegurança, estes podem ser alguns exemplos de padrões de autossabotagem:
- Procrastinação;
- Preocupação excessiva;
- Pensar demasiado;
- Abuso de substâncias tóxicas;
- Perfecionismo;
- Desajustes alimentares;
- Pensamentos automáticos negativos;
- Fugas emocionais;
- Anestesia emocional;
- Autocrítica destrutiva;
- Resistência à mudança;
- Vitimização;
- Culpabilização;
- Medo constante de errar;
- Incapacidade para relaxar;
- E muitos outros.
Estes padrões podem ter consequências negativas na tua vida quando se tornam persistentes e automáticos.
São atitudes, comportamentos, pensamentos que interferem com a tua capacidade para atingires os teus objetivos, desejos, sonhos…as tuas realizações (seja em que altura for do ano).
Impedem-te de evoluir.
São crenças disfuncionais que tens sobre ti, pensamentos negativos que te levam a acreditar que não és merecedor ou capaz de algo, substimando a tua valorização enquanto pessoa. A maioria disto tudo parece estar fora do domínio da consciência.
Porque é que até inconscientemente podes acabar por agir contra ti mesmo?
A origem pode estar em traumas de infância/adolescência, experiências de vida ou até pode estar relacionada com traços de personalidade desenvolvidos no ambiente familiar. Podem ser defesas e padrões aprendidos no passado no sentido de sobreviver a situações dolorosas, como por exemplo bullying ou ambiente familiar violento/inseguro.
A autossabotagem pode ajudar como defesa perante emoções desconfortáveis em determinados momentos em que não existe capacidade para as gerir de outra forma. Contudo, prolongar esse tipo de padrões no tempo pode ter consequências negativas e desencadear transtornos de ansiedade ou depressão.
Se identificas este tipo de padrões de autossabotagem na tua vida, é fundamental teres consciência deles e perceberes que não estás preso a eles. Podes quebrar padrões!
Como podes deixar de ser o teu maior inimigo?
O nosso cérebro gosta do que é familiar.
Neurónios que disparam juntos, conectam-se.
Quanto mais se estimular um circuito neuronal, mais forte esse circuito se torna. É por isso que é tão difícil quebrar ciclos e padrões registados na rede neuronal que se vai criando ao longo da vida. Mas é possível!
O teu cérebro é maravilhoso! Aprende, reaprende… é extremamente flexível e plástico.
Antes de tudo, precisas de identificar e conhecer os teus padrões de pensamento ou comportamento que podem estar a ser negativos. E, com essa consciência, encontrar novas maneiras (até bem criativas) de os contra-atacar.
Se te “programaste” para considerar determinadas mensagens (pensamentos, comportamentos…) como as tuas verdades e crenças, precisas de embarcar num processo dedicado de questionamento, desconstrução e mudança. O segredo está, sem dúvida, na persistência e resistência à frustração. Estas mudanças só acontecem com uma prática ativa e repetitiva, vezes e vezes sem conta.
Fácil? Não, de todo.
É um processo caótico de elevação de autoestima, definição de metas e estratégias, criação de rotina, observação, questionamento, conhecimento. Uma caminhada caracterizada por ansiedade, confusão, medo, insegurança, negatividade, frustração. É um dos maiores desafios no trabalho com os meus pacientes e muitos deles, nesta fase, sentem que estão pior do que estavam quando começaram a terapia (começa a surgir a vontade de desistir). É aqui que percebo que estamos a ir no bom caminho e que é preciso continuar a batalha.
Porquê tanta coisa negativa?
Porque quando começas a sair da tua zona de conforto é algo natural de acontecer. Experienciar uma barreira de emoções negativas e confusas é perfeitamente normal e positivo num processo de mudança. É sinal que estás a criar caos para encontrar uma ordem.
Antes da ordem, vem o caos.
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