Quero esquecer!

O título deste artigo é, provavelmente, uma das frases/queixas que mais ouço no meu consultório.

Um assunto com o qual tenho travado duras “batalhas” com muitos dos meus pacientes e também na minha vida pessoal. Sim, são palavras escritas por alguém que também já teve “o coração quebrado em pedacinhos”. Quem nunca sofreu por amor que atire a primeira pedra.

 

Quero esquecer um amor!

 

Viver o amor é apaixonar-se, amar, criar laços afetivos e gostar tanto de alguém ao ponto de achar que não consegue viver sem essa pessoa. O pior é quando tudo acaba. Parece que a vida acaba também, é impossível esquecer aquela pessoa que tantas marcas deixou. Para algumas pessoas, o fim de um relacionamento pode acontecer de repente, para outras pode ser um medo constante que esse dia chegue. Independentemente da situação, é traumático.

Apesar de ser difícil para os dois na relação (em princípio), a pessoa “deixada” é aquela que sofre mais. Fica com raiva, insegura, carente, com saudade, dor, desejo de vingança, triste.

 

Até quando me vou sentir assim? Como posso deixar de sentir isto…JÁ?

 

Como eu gostaria de saber as respostas mágicas para estas perguntas. Se eu soubesse como colocar estas emoções e estes sentimentos de lado (de forma imediata), acreditem, ensinaria e aplicaria a mim mesma inúmeras vezes. Esquecer alguém que se ama e que tanto marcou, não é fácil.

Este tem sido um desafio tremendo para mim, enquanto psicóloga e pessoa, porque a perda de um amor dói. E não é pouco. O amor romântico tem sido um dos comportamentos mais estudados no campo da psicologia, mas também um dos comportamentos menos compreendidos.

 

Atualmente, sabemos que tudo acontece no cérebro através de uma complexa reação química.

 

Sabemos que o amor ativa regiões cerebrais ricas em dopamina (um neurotransmissor que nos faz sentir bem, sentir prazer) e oxitocina (uma hormona ligada ao apego). Quando estamos apaixonados, estes “pozinhos mágicos” fazem-nos sentir tão bem e até eufóricos. As áreas ligadas ao prazer que nos motiva para comer, beber, dormir, ter relações sexuais e socializar estão altamente ativadas.

 

Com tanta química boa, é difícil não ficarmos viciados.

 

É esta sensação de prazer que causa o vício. Queremos mais e mais dessas boas sensações. O amor desperta, no cérebro, as mesmas áreas que respondem a drogas como a cocaína ou o tabaco.

 

Por isso, a minha abordagem tem sido tratar o amor como uma droga.

 

A paixão e o amor produzem efeitos cerebrais semelhantes aos de drogas como a cocaína ou o tabaco. Acabar com esses efeitos não é uma tarefa fácil. O fim de um relacionamento, para a pessoa que ainda tem algum sentimento, é devastador para o cérebro. Tira o sono, o apetite, surge a ansiedade, a irritabilidade, a dor espalha-se por todo o corpo e o pensamento está apenas focado nisso.

 

Vive-se uma crise de abstinência, pois a dose diária é negada.

 

E é mesmo. Não apenas o sentir, mas também física e quimicamente vivem-se todos os sintomas de abstinência. O amor romântico é mantido por algo básico na nossa natureza biológica, envolvendo sistemas cerebrais associados à fome e sede. Por isso dói, e muito. Não apenas a nível emocional, mas também se sente algum tipo de dor física. Isto acontece porque o sofrimento emocional desencadeia uma atividade cerebral semelhante àquela que produzimos quando temos dor física.

 

Dopamina e oxitocina são os melhores analgésicos para a diminuição desta dor.

 

No fim de um relacionamento o cérebro entra num caos neuroquímico do qual não é fácil desvincular-se. Estes “analgésicos” deixam de ser produzidos na mesma quantidade e o cérebro reage com tristeza e dor, ficando obcecado na procura de sentir de novo a mesma emoção.

 

Deixar de ter acesso ao objeto do amor intensifica o desejo. Que ironia da natureza!

 

Por isso é tão difícil deixar de pensar na pessoa. Por isso é tão difícil esquecer a pessoa. A boa notícia é que alguns comportamentos podem ajudar a manter o pensamento longe do “perigo”.

 

O tempo nem sempre é o melhor amigo.

 

É certo que o passar do tempo ajuda. Podendo variar muito de acordo com o tempo de cada pessoa e com a intensidade da relação. Mas, não existe um prazo fixo. Pode ser num curto ou longo prazo. Pode até não conseguir esquecer. Alguns comportamentos são necessários e podem encurtar o tempo que demora a voltar a sentir-se bem. Esta é a grande “batalha”. Na prática não é fácil. São momentos em que as emoções dominam e o racional se “desliga”.

Em algumas situações, a terapia é fundamental e pode ajudar a manter o racional mais ativo e focado no processo de recuperação desta situação traumática.

 

O cérebro está a sofrer.

 

Os circuitos cerebrais ligados ao prazer mantêm o amor aceso. Mas, por outro lado, existe a necessidade de “seguir em frente”. É uma luta entre as sensações automáticas do corpo e o querer superar.

É certo que as emoções permanecem se insistirmos em relembrar os “bons momentos”. As lembranças da pessoa ainda ativam o cérebro (fotografias, músicas, cheiros, lugares). E lá vem a dopamina e a vontade de querer mais (essa pessoa). Aqui tudo se torna mais complicado, pois a pessoa já não está para satisfazer esse desejo. Não há acesso à “droga”. E o cérebro vai continuar a exigir. Da mesma forma que a abstinência perante o uso de drogas, o cérebro procura reproduzir as sensações do início da relação. Mas, a pessoa já não está.

 

É nesta fase que surge a tendência para praticar atitudes precipitadas.

 

Primeiro vem o protesto e depois o desespero que levam a atitudes insensatas, tais como ligar de forma obsessiva, enviar inúmeras mensagens, exigir respostas e explicações, pedir para voltar, perseguir e desabafar nas redes sociais, sugerir um último encontro. Tudo na tentativa de recuperar a pessoa amada. Mas, mais não é que a destruição do seu amor próprio. Torna-se fundamental trabalhar a força emocional e evitar as “recaídas”. Tal como no uso de drogas.

 

A cura? O que faria para deixar de fumar, consumir cocaína ou outras drogas? Pura e dura reabilitação.

 

Numa primeira fase, evita o contacto com essas substâncias e todos os estímulos que possam levar ao consumo. O mesmo deve acontecer se o objetivo é esquecer alguém que se ama. Não deixe o vício tomar conta de si. Estimule a libertação de dopamina, oxitocina e serotonina no seu cérebro (os tais “pozinhos mágicos” de prazer, bem-estar e felicidade) através de atividades que goste de fazer como a prática de exercício físico, estar na companhia de amigos, cantar, dançar, trabalhar, estudar, aprender coisas novas, conhecer pessoas novas.

Pense na sua saúde mental e emocional. Use todas as suas energias, forças e estratégias para superar de forma mais rápida esta situação dolorosa. Concentre-se em “seguir em frente” sem olhar para trás. Reabilite-se. Pense em si.

A natureza humana está preparada para ultrapassar a privação de um amor romântico e recomeçar uma nova história. Experimentar as sensações de uma nova “droga”. Se o tempo passar e continuar numa espécie de “luto”, um profissional pode ajudar nesta fase de libertação.

 

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