Vulnerabilidade: a medida mais precisa da coragem

O que te vem à mente quando pensas em vulnerabilidade emocional?

Possivelmente fragilidade, risco, fraqueza, suscetibilidade ou algo que deveria ser fortemente evitado. O próprio dicionário define vulnerabilidade como algo ou alguém suscetível de ser ferido; aquilo que pode ser destruído, derrotado, frágil.

Podemos então concluir que, em princípio, uma pessoa vulnerável é fraca, frágil, delicada e facilmente destruída. O que te parece? Caso tenhas respondido sim, permite-me discordar e vem comigo refletir um pouco sobre a noção preconcebida que possas ter sobre vulnerabilidade.

Vulnerabilidade é um conceito presente em praticamente todos os artigos que escrevo e na minha prática profissional. Mas também é, provavelmente, um dos conceitos mais mal compreendidos.

 

A minha definição de vulnerabilidade emocional: um valor psicológico ligado à inteligência emocional traduzido pela vontade e capacidade de reconhecer e expressar as próprias emoções, especialmente as dolorosas; poder; força; coragem.

 

A vulnerabilidade emocional não nos torna mais fracos, mas causa uma sensação de incerteza, risco e exposição. Surgindo o desconforto de estarmos  a sair de uma zona de conforto e a entrar em situações em que não temos controlo sobre o que virá depois, é muito mais fácil e confortável fugir. Certo? Será essa fuga um sinal de força?

Por estarmos expostos a situações em que não temos controlo nem garantia sobre os resultados, temos tendência a fugir. O que é compreensível. Afinal, é um instinto de sobrevivência, afastamento de qualquer situação que ameace a nossa perceção de segurança. Contudo, o crescimento pessoal só acontece quando aceitamos sentir dor, vergonha, medo.

 

Colocar-nos em situações vulneráveis é essencial para crescer e amadurecer.

 

Optas por conversas aborrecidas porque são seguras e superficiais pelo que não precisas de contrariar alguém? Estás preso(a) a um trabalho ou estilo de vida que não gostas, porque é suposto e não queres dececionar outros ou a sociedade? Não te vestes da forma como realmente queres porque isso te faz sentir desconfortável para com outros? Sorrir para estranhos faz-te sentir desconfortável? Sentes necessidade de agradar por medo que alguém não goste de ti? Não inicias uma conversa com alguém com medo da possível rejeição?

São exemplos de situações que demonstram inabilidade para ser vulnerável. Exigem exposição emocional que acarreta uma elevada carga de risco e incerteza (medo da rejeição, crítica, reação dos outros). É desconfortável, inquietante e causa ansiedade.

Quando gostamos de alguém e partilhamos os nossos sentimentos, estamos a colocar-nos numa posição de vulnerabilidade em que a pessoa pode não retribuir esses mesmos sentimentos. Temos medo de parecer fracos e frágeis ao dizer o que sentimos.

 

É necessária uma grande força para nos permitirmos ser vulneráveis.

 

Se não exteriorizarmos sentimentos, deixaremos de viver. E porquê? Medo de ficar numa posição emocionalmente vulnerável. Muito mais assustador e perigoso é chegar a uma altura da vida em que surgem perguntas como: E se eu tivesse arriscado? E se eu tivesse dito que amava? E se eu tivesse conseguido?

 

Pára e pensa: quantas situações do teu dia a dia são evitadas por esse mesmo motivo (medo da exposição emocional)?

 

Ser vulnerável é uma tremenda fonte de força para enfrentar a exposição a situações que podem ser desconfortáveis e até dolorosas (rejeição, vergonha por dizer uma piada que pode não ter piada nenhuma, partilhar uma opinião que pode desagradar). Pensa em como é difícil a conexão com pessoas que não transparecem emoções ou falhas. Escolher ser vulnerável é a única maneira de nos conectarmos verdadeira e empaticamente com o mundo e com outras pessoas em relacionamentos mais profundos e honestos.

 

É isso que torna a vida mais bonita. Permite-te arriscar e estar disposto(a) a aceitar as consequências para tentar a hipótese de sucesso.

 

Para isso, temos que nos colocar em situações de exposição e vulnerabilidade emocional e escolher conscientemente não esconder as emoções ou os desejos. Será isto uma fraqueza ou um poder?

 

Coragem e vulnerabilidade andam de mãos dadas!

 

É um poder que te permite viver a vida de forma mais feliz, sem receios ou limitações. E aceitar que, na realidade, as coisas podem correr menos bem, mas, mesmo assim, é preciso seguir em frente. E essa ideia é libertadora.

 

Voltando ao início: Uma pessoa vulnerável é fraca, frágil, delicada e facilmente destruída? Uma pessoa vulnerável é uma pessoa com coragem e poder sobre si, liberta de receios e medos de se demonstrar vulnerável, perfeita na sua imperfeição?

 

Em aberto para futuras reflexões…