Acredita em tudo o que pensa?

Costumo partilhar, muitas vezes, com os meus pacientes: a maneira como pensamos determina a maneira como nos sentimos.

Se tenho pensamentos lógicos e positivos, movo-me numa direção positiva. Se tenho pensamentos distorcidos e negativos, movo-me numa direção negativa. Se não tenho nenhum pensamento, não vou a lugar nenhum.

 

Muitos dos problemas de saúde mental podem estar associados a pensamentos automáticos nagativos.

 

Um breve exemplo.

Está sozinho em casa num dia ventoso e chuvoso. A meio da noite ouve-se uma janela bater. O que pensariam de imediato, de forma automática?

Uns, possivelmente, pensariam: “Estou a ser assaltado”, “Alguém está a tentar entrar em minha casa”. Nesse instante, em alguns segundos, são despoletadas reações físicas em que o coração acelera, ficamos paralisados, as pupilas dilatam, ansiedade. Quase no mesmo instante sentimos (uma sensação) de inquietude, medo. Logo, o comportamento de defesa, fuga.

Perante a mesma situação, possivelmente, outros poderiam pensar: “Esqueci-me da janela aberta”. Também aqui poderiam ser despoletadas algumas reações físicas, menos alarmantes, causando um estado emocinal de surpresa, mantendo-se a sensação de tranquilidade. Ou apenas uma sensação de aborrecimento por ter que se levantar para ir fechar a janela.

É um pequeno exemplo que diz muito sobre a ligação que os pensamentos têm com as emoções e os sentimentos. Interpretamos uma situação a partir das nossas perceções, de forma automática. É este pensamento automático (o primeiro pensamento que surge) que vai determinar as emoções e o sentimento despertado pela situação, influenciando o comportamento que teremos. Neste sentido, os nossos pensamentos influenciam muito, mais do que acreditamos.

 

Se os nossos pensamentos forem negativos, provavelmente, as nossas emoções e os nossos sentimentos também o serão.

 

O grande problema é que tomamos como verdade absoluta aquilo que pensamos. Isto porque, ao longo do nosso desenvolvimento enquanto pessoas, o corpo e o cérebro trabalham para nos agradar, sem contestar. Assim, raramente questionamos os nossos próprios pensamentos. Isto pode, por vezes, prejudicar o nosso estado emocional e nem nos apercebemos. Originando sensações negativas duradouras presentes em transtornos emocionais e psicológicos como a depressão ou ansiedade.

 

Torna-se importante perceber a diferença entre pensamento, emoção e sentimento.

 

O pensamento é a capacidade para formar ideias e representações da realidade na mente. A emoção é despoletada pela mente (nos músculos, no coração, pulmões, reações endócrinas). Podemos dizer que a emoção é rápida e é algo que se pode ver (na cara, nos movimentos). Por sua vez, o sentimento é a experiência mental sobre o que se passa no corpo. Ou seja, não se vê e tem uma duração maior que a emoção. Eu posso estar a sentir-me triste, mas se quiser enganar e comportar-me como se estivesse feliz, posso fazê-lo. Porque ninguém sabe o que vai na cabeça uns dos outros.

 

Somos os responsáveis pela forma como nos sentimos.

 

Há algum tempo atrás, tive a oportunidade de participar em aulas de dança. Algo que me fez sentir muito bem. Foi um processo de aprendizagem, pelo que havia dias que corria tudo muito bem e outros em que corria tudo muito mal. Nos dias que corriam menos bem, algumas vezes aconteceu isto:

O meu pensamento disse-me: “Sou um desastre. Isto não é mesmo para mim”. Despoletando reações físicas e emocionais indicativas de irritabilidade. E então, o meu sentimento mais duradouro era de desmotivação, frustração e até tristeza.

Quão absurdos podem ser os nossos pensamentos, às vezes! Esta maneira de analisar as coisas do dia-a-dia vai afetar a autoestima, motivação, estados emocionais e sentimentos.

 

Nem tudo o que pensamos é 100% verdade.  Eu diria mesmo que os pensamentos são a forma de autossabotagem mais comum no ser humano.

 

É fundamental questionar os nossos pensamentos. Pois, muitas vezes, estão errados ou distorcidos. Pegando no exemplo da dança, se penso que sou um falhanço, significa que isto é verdade apenas porque um dia ou outro me correu mal? Não fará o erro parte da aprendizagem?

Não se permita ficar preso neste ciclo de pensamentos, emoções, sentimentos, comportamentos negativos. Questione o que está a pensar: Faz sentido?, É lógico?, É verdade?, Acredito totalmente nisto?. Não é ser positivista puro. É sim pensar e analisar outras perspetivas perante as situações. De forma mais lógica.

 

Questione os seus pensamentos e identifique possíveis erros cognitivos.

 

Grande parte de nós pode identificar-se com os exemplos de erros de pensamento automático abaixo. Por vezes, ao parar para pensar sobre eles, não fazem muito sentido. Por exemplo:

  • Catastrofização – “O meu filho ainda não chegou. Deve ter acontecido alguma coisa de mal”.
  • Tudo ou nada, 8 ou 80 – “Ou faço isto de forma perfeita, ou então é melhor nem tentar”, “Se não for um sucesso, serei um fracasso”.
  • Generalizações – “Nunca faço nada bem”, “Toda a gente está contra mim”.
  • Desvalorização do positivo – “Só me estão a elogiar porque são meus amigos”.
  • Conclusões precipitadas – “A mensagem foi lida e não tive resposta. Já não me ama”.
  • Ler o pensamento dos outros – “Como pude dizer isto? Eles devem pensar que sou idiota”.
  • Personalização – “Devem estar a rir-se de mim”.
  • Os “deveria” – “Eu deveria ter feito aquilo”, “Eu deveria ter ido”, “Eu deveria ter dito”.
  • Generalizações do passado – “Fui traída em relações anteriores, de certeza que vou ser traída pelo meu namorado agora”.

 

O ser humano pode alterar a sua vida, alterando as suas atitudes mentais.

 

É possível e fundamental treinar-se a questionar os seus pensamentos.

Pensamentos e comportamentos podem ser alterados, modificados. Se identifica que pode estar neste ciclo de pensamentos automáticos negativos que estão a afetar o seu estado emocional causando sentimentos negativos, procure ajuda profissional. Um profissional pode trabalhar consigo estratégias cognitivo-comportamentais que permitirão identificar e conhecer os seus erros cognitivos, avaliar pensamentos/emoções/sentimentos e alterar a sua maneira de pensar sobre as situações e sobre si mesmo. Facilitando o controlo da sua mente, que é a arma mais poderosa que temos.