Se falasses com os outros como falas contigo, será que terias algum amigo?

“É importante ter autoestima”, “Sê tu próprio/a”.
Ouvimos isto imensas vezes e devemos acreditar que é verdade, mas isso não quer dizer que seja fácil.

Por vezes, quando tentamos acreditar em nós, surge a dúvida, incerteza, insegurança, os pensamentos mais negativos. Claro que é possível mantermos uma confiança falsa, mas será que também é possível construir uma autoestima genuína e saudável?

 

Conheces-te realmente?

 

Antes de mais, precisas de conhecer as tuas qualidades. Aquelas que realmente tens. E tens…muitas! Tens sabedoria, amor, compaixão, conhecimento, competências, valor. Acredito que tenhas conhecimento de algumas delas, outras tens como garantidas e, grande parte delas, desvalorizas (não achas nada de especial).

 

Tens um sentido realista do teu valor?

 

É isso mesmo que é a autoestima. É o sentido que cada um de nós tem sobre o seu próprio valor. É a maneira como gostas de ti e te consegues apreciar, independentemente das circunstâncias. É a partir desta perceção de nós mesmos que se geram sentimentos de inferioridade ou superioridade.

 

É a opinião que tens sobre ti.

 

A autoestima é construída e moldada pelos teus pensamentos, pelas tuas relações com outros e experiências de vida. É a forma como te sentes com as tuas capacidades e limitações.

Quando tens uma autoestima saudável, sentes-te bem contigo, consegues ver-te como merecedor do respeito dos outros, consegues ver o teu valor e tornas-te mais resiliente. Quando tens uma baixa autoestima, colocas pouco valor nas tuas opiniões e vontades e preocupas-te, com frequência, com o facto de não seres suficiente. Quanto pior te sentires em relação a ti e com o que fazes, mais facilmente entrarás numa espiral de degradação emocional com pensamentos negativos que te mantêm preso a crenças erradas e prejudiciais.

 

A baixa autoestima pode causar desajustes emocionais tais como ansiedade e depressão.

 

Alguns sinais de baixa autoestima:

  • Acreditares que os outros são melhores que tu;
  • Teres dificuldade em expressar necessidades e opiniões;
  • Manteres o foco nas tuas fragilidades;
  • Sentires com frequência medo, dúvida, insegurança e preocupação;
  • Teres uma visão negativa da vida e sensação de falta de controlo;
  • Medo do erro;
  • Teres dificuldade em dizer não e em estabelecer limites;
  • Colocares, com frequência, as necessidades dos outros acima das tuas;
  • Não sentires confiança;
  • Teres necessidade de agradar ou procurar aprovação dos outros.

 

Teres uma autoestima saudável vai influenciar a tua motivação, o teu humor, a tua saúde mental e vai melhorar a tua qualidade de vida.

 

Sinais de uma autoestima saudável:

  • Não ruminares em experiências passadas;
  • Acreditares que és nem melhor nem pior que os outros;
  • Não te sentires inferior a outros;
  • Expressar necessidades e opiniões sem desconforto;
  • Sentires confiança em ti;
  • Teres uma visão positiva sobre a vida;
  • Saberes dizer não, sem sentimento de culpa;
  • Conheceres as tuas qualidades e os teus defeitos e aceitá-los;
  • Não teres medo do feedback de outros;
  • Não seres escravo/a da perfeição;
  • Não teres medo do erro ou da falha;
  • Não procurares agradar ou aprovação de outros.

 

O discurso que tens contigo é uma parte muito importante para a construção de uma autoestima saudável.

 

A forma como falas contigo causa impacto na tua confiança e autoestima. O efeito pode ser bom ou mau, dependendo se o discurso é negativo (“devia estar a fazer melhor”, “toda a gente acha que sou um idiota”, “nada vai melhorar”, “não consigo fazer nada bem”) ou positivo (“estou a fazer o melhor que posso”, “eu consigo”, “não me sinto bem, mas preciso de acreditar que vou ficar bem”).

 

É um trabalho que demora algum tempo, mas a recompensa vale a pena.

 

Quanto mais trabalhares o discurso que tens contigo próprio/a, mais fácil vai ficando. Não é um trabalho fácil, principalmente no início, mas com treino, resistência à frustração e persistência vais ficando cada vez melhor.

 

Como?

 

  • Um primeiro passo: Torna-te consciente e conhece o padrão dos teus pensamentos.
    Ouve o que dizes a ti próprio/a;
    Faz um registo escrito dos teus pensamentos;
    Analisa e vê se existe um padrão positivo ou negativo.

 

  • Num próximo passo: Desafia os teus padrões de pensamento e discurso.
    Questiona as evidências dos teus pensamentos;
    O que dirias a um amigo/a numa mesma situação? Pensarias da mesma forma?;
    Questiona se tens controlo sobre algo que te esteja a fazer sentir mal.

 

  • Muda: Pratica um discurso mais positivo.
    Escreve listas de coisas positivas sobre ti;
    Em vez de “nunca irei conseguir fazer isto…”, tenta dizer “existirá algo que me possa ajudar a conseguir fazer isto?”

 

  • Finalmente: Pratica a autocompaixão.
    Aprende a perdoar-te pelos erros, segue em frente, elimina a culpa, não te compares com os outros, não generalizes as tuas experiências, confia em ti, comemora as tuas vitórias, vive mais no presente e aceita-te por completo.

 

Caso te questiones se tens valor ou se és bom/boa o suficiente, usa a lógica para desconstruires os teus pensamentos.

 

Muitos de nós não sabe como definir o que é “ter valor” ou “ser suficiente”. Pelo que, essa definição é um primeiro passo importante para conseguires ter uma maior clareza sobre se és ou não suficiente. Não fiques apenas pela sensação que tens de não teres valor ou de não seres suficiente. Questiona-te, vê se é verdade, procura provas/factos, desafia-te.

 

Usando a lógica do: “Se…então…é verdade”.

 

  • Um primeiro exemplo: Como posso provar que existo? Como posso provar que eu não penso apenas que existo? (não vamos entrar pelas teorias da Matrix :)…)
    Eu existo porque consigo pensar. Eu penso, logo existo.
    Se eu penso, então é verdade que eu existo.

 

  • Como posso provar que tenho valor?
    Eu tenho valor, porque eu existo. Eu sou, logo tenho valor.
    Se eu existo, então é verdade que eu tenho valor.

Todos os seres humanos têm valor intrínseco. É um facto.

Então, se reconhecermos e aceitarmos esta verdade óbvia de que tu e eu temos valor apenas porque existimos:
Se eu penso, então existo.
Se eu existo, então tenho valor.
Se eu tenho valor, então eu sou merecedor de amor, identidade e pertença.
Se eu sou merecedor de amor, identidade e pertença, então eu sou bom o suficiente.

 

Todas as pessoas têm valor. Nós temos valor simplesmente porque existimos.

 

Ninguém tem menos valor que outra pessoa. Ninguém é mais ou menos importante. Conseguires interiorizar isto vai ajudar-te a colocar de lado o medo que tens de teres menos valor que os outros.

 

Tens valor e és bom/boa o suficiente tal como és. Fala contigo como se estivesses a falar com alguém que amas.