Sou psicóloga…e depois?

Hoje em consulta um paciente perguntou-me: “A Débora sofre?”. Eu simplesmente sorri (carinhosamente) e respondi que sim. Sou humana.

Há algum tempo que me sinto viver com este peso e, provavelmente, muitos colegas de profissão e muitos de vocês no vosso dia-a-dia o sentem no trabalho, com a família, com amigos, com os(as) companheiros(as) – a exigência da perfeição, de não errar, de não fraquejar, de ter que “segurar todas as pontas”, de ter que ser forte o tempo todo.

 

Mas todos nós, seres humanos, temos esse direito. Errar. Fraquejar. Falhar.

 

Sou psicóloga. Mas não sou psicóloga o tempo todo. A psicologia é simplesmente a minha profissão. Um grau académico não me tirou, nem nunca tirará, a essência humana.

Já me dececionei, já dececionei outros, já segurei a mão de alguém por medo, já tive tanto medo ao ponto de nem sentir as minhas próprias mãos, já chorei pela noite dentro, já fui tão feliz ao ponto de nem conseguir dormir, já menti, já me mentiram, já me arrependi, já sorri até chorar de alegria, já chorei rios de tristeza, já gritei, já me zanguei, já amuei, já reclamei, já disse muitas coisas erradas, já me senti insegura, já duvidei de mim, já caí muitas vezes, já me reergui inúmeras vezes.

Quem disse que não posso perder a razão de vez em quando? Quem disse que não posso ficar zangada? Quem disse que tenho que estar sempre bem?

 

Não existe nenhuma relação entre a minha estabilidade ou instabilidade emocional e a minha profissão.

 

Também preciso de alguém que me segure o peso de vez em quando, que me diga simplesmente que vai ficar tudo bem, que me ouça. Alguém também tem que lidar com as minhas falhas, imperfeições e desabafos.

 

Procuro valorizar estas pessoas e mantê-las na minha vida. Que estão nos momentos em que me sinto invisível, fraca, sem forças para lutar, cansada, esgotada.

 

Permita-se às falhas, aos erros, às fraquezas. E, acima de tudo, permita-se ao apoio. O mundo é demasiado cruel e complicado, não conseguimos ser fortes o tempo todo.

 

Valorize as pessoas que o conseguem ver quando se sente invisível, que estão nos piores momentos e que ficam durante as piores tempestades.

 

Não tenho as respostas na ponta da língua para todas as dificuldades humanas. Não estou sempre bem e também tenho comportamentos instáveis. Claro que na minha atividade profissional, como em muitas outras profissões, convém que consiga gerir muito bem as emoções.

Dou o melhor de mim para aplicar técnicas que aprendi no sentido de ajudar os meus pacientes na resolução de problemas, conflitos, mudanças. Em relação aos meus próprios assuntos a resolver, nem sempre consigo resolver sozinha e também sofro por isso. Talvez consiga perceber um pouco melhor e mais rápido o que está a acontecer, mas é difícil ver as coisas quando acontecem dentro de nós.

 

Esforçamo-nos tanto para não errar, ou fraquejar porque se o fizermos somos julgados e criticados. E por quem? Por outras pessoas que também erram e fraquejam. 

 

Porque é algo natural. Permita-se.

Não somos perfeitos. E depois?
É certo que evoluimos e crescemos, mas iremos falhar e ter momentos menos bons muitas vezes ao longo da vida. Não exija demasiado de si ao ponto de se esgotar.

 

A perfeição é harmoniosamente imperfeita.