Ghosting.

O meu trabalho leva-me a acreditar no ser humano, nas pessoas e a cultivar, cada vez mais, essa crença. Contudo, algumas das lógicas que penso compreender, nas relações humanas, parecem-me estar a mudar.

As pessoas estão cada vez menos sensíveis. Tudo acontece tão rápido e as relações de amizade ou romance são superficiais.

 

O grande perigo é que estamos a educar as crianças e os jovens nesse sentido.

 

“Ligar” e “desligar” é demasiado fácil. A culpa não é só das redes sociais, a educação também está a ter um papel fundamental na verificação aumentada desta facilidade.

 

Nas novas gerações nunca foi tão fácil aparecer e desaparecer da vida de alguém.

 

Aqui entra o tema do artigo – ghosting. Um comportamento que tenho identificado muito nos adolescentes. Mas não só. Não é um problema da adolescência. Também os adultos o praticam e podem mesmo estar a passar esses ensinamentos para os mais novos (mesmo que de forma inconsciente).

 

O que é ghosting?

 

Talvez já tenham passado por isso, mas nunca lhe deram este nome. Conhecer alguém, trocar contactos, marcar encontros, iniciar uma relação (seja romântica ou de amizade), tudo ir muito bem e, de repente…silêncio. É ter a experiência de alguém, que acreditamos preocupar-se connosco (amigo, amiga, namorado, namorada), desaparecer sem explicação. Simplesmente desaparece como um ghost (fantasma).

 

Boo!! Não é só o nome que é assustador, as consequências também o são.

 

A verdade é que não é um comportamento novo. Mas, na minha humilde opinião, acontece cada vez mais por um maior recurso ao contacto através de telemóveis e internet. O problema é que tem efeitos emocionais devastadores. Encerrar uma relação (seja de amizade ou romance) da noite para o dia, sem falar, sem comunicação (mesmo que exista aquela mensagem confusa no telemóvel), sem dizer “adeus”…é cruel.

 

Porque é que as pessoas estão a desaparecer assim? 

 

Acredito que tenha muito a ver com as ferramentas de que somos cada vez mais adeptos – redes sociais, aplicações de encontros, internet, telemóveis. É tão fácil começar a falar com alguém, como é deixar de falar.

 

As conexões online têm vindo a aumentar este tipo de comportamento. Mas a culpa não é das redes sociais.

 

Para além do maior uso de redes sociais, as pessoas estão cada vez mais focadas apenas nas suas próprias emoções e nos seus próprios sentimentos, sem pensar no dano que este tipo de comportamento pode causar no outro. Se analisarmos um pouco e racionalizarmos, podemos identificar uma certa imaturidade emocional. Para além da imaturidade emocional, é uma falha numa das grandes capacidades humanas – a empatia.

 

É uma nova forma de lidar com as coisas, ou de não ter que lidar.

 

O “adeus”, nas relações humanas, é muito importante para “seguir em frente”. Permite fechar ciclos. Daí o grande perigo e crueldade do ghosting, pois tudo isto é negado à pessoa com quem se termina a relação.

 

É muito confuso. A pessoa fica ali em “banho-maria”.

 

Não há maneira bonita de colocar isto. Jovens, homens, mulheres que o fazem estão a ser cruéis. É uma falta de respeito, empatia, consideração e um grande sinal de imaturidade emocional.

 

Pode ser uma maneira para lidar com um fim. Mas já parou para pensar como a outra pessoa se sentirá com isso?

 

Pode ser que as emoções e os sentimentos, de quem pratica ghosting, estejam confusos, pode até ser medo do conflito. Mas, não é justo nem correto para a pessoa ter que lidar com a sua confusão. Esta também tem uma vida e toda a gente merece uma explicação.

As consequências do ghosting recaem para os dois lados. A pessoa que sofre ghosting (em princípio) pode ter uma quebra na autoestima, desenvolver medo do abandono e rejeição. Para quem pratica ghosting (em princípio) terá que lidar com o remorso e a culpa por ter abandonado alguém daquela maneira.

 

Pais: os vossos filhos podem estar a crescer com a ideia de que nos podemos “livrar” das pessoas simplesmente não respondendo. E tudo bem.

 

“Mãe, diz que eu não estou”. Não permita. Fale, compreenda, demonstre e ensine a importância de enfrentar os conflitos, de ser respeitador, de se importar com as pessoas, de se colocar no lugar do outro e ser empático (“Como te sentirias se fizessem isso contigo?”).

 

Passamos a educar pessoas muito inteligentes, mas cada vez com menos sentimentos. E a tratar os outros como pessoas que não têm sentimentos.

 

Na adolescência construímos estruturas cerebrais e de personalidade que são importantes para o resto da vida. É na infância e adolescência que se moldam os princípios, valores e as crenças que ficam para a vida adulta. Comportamentos como o ghosting fazem com que se cresça com a convicção de que podemos viver apenas em função dos nossos próprios interesses.

 

É a perseguição do prazer e o evitamento da dor.

 

Não é, de todo, um ensinamento saudável para a humanidade. A empatia não é estimulada e está a desaparecer.

 

Boa educação e empatia não passam de moda.

 

Pratique uma parentalidade positiva (dê uma vista de olhos no artigo Parentalidade Positiva aqui no Blog) baseada na comunicação, expressão de sentimentos e emoções. Dêem ferramentas aos vossos filhos para lidar com os desafios e os conflitos. Ajude a criar estratégias para resolver situações. E, acima de tudo, seja um modelo.